domingo, 3 de maio de 2009

"Eu preferia estar a...

limpar o rabo de um macaco com um piaçaba;
arrancar os pêlos do nariz com uma pinça;
entalar as mãos numa porta consecutivamente;
dejectar um portro;
caminhar descalça sobre vidros até Fátima;
parir pela uretra;
tirar chiclets debaixo de mesas de uma escola secundária;
enfrentar um Pitbull enfurecido com um bife na cara;
entrar no meu próprio estômago;
...sorrir e acenar...
cortar os pulsos com uma folha de papel;
fazer uma maratona de Batanetes e Malucos do Riso;
ler Os Maias de trás prá frente;
fazer uma gabardina de arame farpado e depois vesti-la toda nua;
beber bílis;
receber uma transfusão de coca-cola;
comer um pacote de mentos, e depois beber coca-cola;
beber um shot de nitroglicerina, e depois atirar-me contra uma parede;
tirar a cera dos ouvidos com uma Black-and-Decker;
estar num curral cheio de porcos a espirrar;
escorregar num escorrega de laminas e cair numa bacia de álcool;
ter um ciclo menstrual (dito por um homem);
estar na Zona J com as jóias da Coroa Inglesa;
ter todas as unhas dos pés encravadas;
ouvir o Arny falar cinco horas seguidas do acasalamento dos grilos;
ser eunuco;
limpar a jaulas de araras doentes;
tentar pentear a S.;
que o meu computador tivesse apenas Comic Sans...
do que estar aqui."

Onde estariam estas pessoas para estarem em tamanho sofrimento?

1 comentário:

ficções disse...

Escrever é defender a solidão em que se está; é uma acção que brota somente de um isolamento afectivo, mas de um isolamento comunicável, em que, exactamente, pela distância de todas as coisas concretas, se torna possível um descobrimento de relações entre elas.

Maria Zambrano in A Metáfora do Coração e Outros Escritos
recomendado...